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“Como a abelha que colhe o mel de diversas flores, a pessoa sábia aceita a essência das diversas crenças e vê somente o bem em todas as religiões”

5 de mai. de 2011

O JESUS DOS ESPÍRITAS


Entendemos o Espiritismo, segundo a Dou­trina codificada por Allan Kardec, como uma norma, relígio-filosófica, de dar à criatura humana todos os meios simples e práticos de alcançar a própria valorização moral. Através do estudo e da exemplificação da Doutrina, cuja base evangélica é evidente, podem, o homem e a mulher, compreender a verdadeira significação da vida terrena, com todos os seus problemas, dores e aflições, ligando-a ao mundo espiritual, porque os dois mundos se interpenetram e se influenciam reciprocamente.
A Lei de Causa e Efeito, o Carma, como dizem os hindus, é inflexível e sua execução constitui, antes de simples castigo, uma imposição criada pelas ações do Espírito encarnado ou desencarnado para o seu necessário progresso, que pode ser mais lento ou mais rápido, conforme determinadas circunstâncias.
Para nós, portanto, o Espiritismo tem extraordinária importância no desenvolvimento moral da Humanidade. Não se destina a fazer santos, mas homens retos, dignos do respeito geral, úteis a si e ao próximo, capazes de, por seu comportamento e modo de pensar, imprimir ao Bem uma ação muito mais dinâmica do que tem sido, ao mesmo tempo transformando o Mal, neutralizando-lhe os efeitos e aproveitando-lhe a energia, a fim de que se reduza e um dia fique extinto. Nada, porém, será obtido sem a educação individual, sem que se dê à pessoa humana a atenção imprescindível, desde a criança até o ancião. Essa a obra grandiosa do Espiritismo: modelar o caráter humano, fazendo cada um compreender o elevado papel que tem a desempenhar na vida terrena e em face de seus semelhantes e dos compromissos que traz do passado espiritual.

 
Quando se alude a Jesus, alguns cépticos sorriem “superiormente”. Consideram que o Cristianismo não forma homens, mas múmias, seres abúlicos, neutros, passivos, incapazes de ações enérgicas, sempre choramingantes, de cabeça baixa, permitindo abusos e tolerando absurdos, em nome da humildade, da tolerância e do amor ao próximo. Ora, as coisas não devem ser olhadas dessa maneira. Se o misticismo tem proporciona­do episódios que pareçam justificar semelhante conceito, mais por imperfeição das criaturas humanas do que do legítimo espírito cristão, a vida de Jesus oferece aspectos absolutamente contrários a essa concepção sombria e negativa da personalidade humana.
Jesus foi humilde sem ser servil ou covarde. Foi bravo sem ser agressivo. A cena dos mercadores do templo, por ele expulsos, é prova eloquente de energia, de coragem, de intenção moralizadora. Enfrentou sozinho, bravamente, aqueles que profanavam o lugar sagrado. Sua atitude de dar ao mundo uma doutrina nova, mais humana, mais edificante, sem violência nem fanatismo, arrostando, como arrostou, todos os perigos, sofrendo humilhantes, torturas e o fim material na cruz, dão conta mais do que outro qualquer exemplo, da sua incomum bravura.
Dele conhecemos somente o nos contam os Evangelhos. E’ pena que não haja mais pormenores da sua passagem pela Terra, porquanto os fatos do seu itinerário humano não devem ter-se restringido apenas ao que nos relatam os Evangelhos, ressaltando mais a finalidade religiosa da sua peregrinação.
Ninguém deu mais belas provas de sinceridade. Nada mais degradante do que a hipocrisia, que, ainda hoje, campeia por todos os cantos. Os hipócritas mostram sorrisos, abraçam, louvam, embora, intimamente, não experimentem satisfação alguma com o que fazem para iludir. Quando há sinceridade real, sentimos o calor espiritual das atitudes, a vibração benéfica das palavras de agrado ou louvor. Há gente assim, insincera, em toda parte. Nem foi por outro motivo que Jesus, tão doce e benévolo, tão tolerante e discreto, não se conteve ao repelir a hipocrisia: “Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Adoram-me, porém, em vão, ensinando doutrinas que são preceitos de homens”.  E adverte: “Quando orardes, não sejais como os hipócritas.”
   Em Mateus, 6:1-2, 6:2-6, 6:16-18, 15:7-9 e 23:5-10, ele condena a hipocrisia e os hipócritas.
  O mundo herdou, por força daqueles que pretenderam, pela comoção, obter o que não alcançavam pelo entendimento claro, a idéia de um Jesus chagado, coberto de sangue, para sempre dependurado na cruz. O mundo mudou de­pois da noite negra da Idade Média e se libertou de concepções retrógradas, adquirindo plena consciência do seu direito de pensar e de dizer. Desde aí, muitas interpretações benéficas da personalidade de Jesus e do legítimo objetivo do verdadeiro Cristianismo contribuíram, e contribuem, para dar à Humanidade um retrato mais compatível com a dignidade do Cristo, retirando-o da cruz, que foi um episódio de sua vida terrena, episódio dramático, triste, cruel, mas apenas um episódio.
   Em vez de um Jesus morto e divinizado, temos, no Espiritismo, um Jesus vivo, glorifica­do por sua grandeza moral e por suas obras e idéias, pela ascendência espiritual de que desfruta, como Espírito puro, de altíssima hierarquia, a quem estão entregues os destinos deste planeta e, consequentemente, os da Humanidade terrena.
   Em “Os Quatro Evangelhos”, Roustaing nos permite ver como os Evangelistas e Apóstolos nos apresentam a grandeza do Mestre excelso e de sua magna doutrina, sem os macabros acessórios que o têm acompanhado nas apresentações de religiões ditas tradicionais: coroa de es­pinhos, cravos, sangue, sangue, sangue.
   Jesus não prega a tristeza, a dor, o desânimo. Pelo contrário, encontramos nos Evangelhos a prova de sua alegria, do seu amor à coragem, à iniciativa, ao trabalho. Sempre aconselhou àqueles que, tangidos pelo sofrimento, pareciam derrotados, que tivessem ânimo.
Nas horas mais amargas, revelou fé, bravura e firmeza. Sacrificaram-no, mas não lhe quebraram a tenacidade. Por conseguinte, devemos todos deixar de lado o que há de tétrico e sombrio em torno de Jesus, para nos identificarmos com os seus exemplos maravilhosos, contidos nos Evangelhos, os quais ajudam a formar homens de caráter forte, decididos, confiantes em si, destemerosos e persistentes.
Para nós, espíritas, Jesus está vivo, sempre esteve vivo. A cruz é um símbolo. Não nos preocupam símbolos, mas tudo quanto pode concorrer para dar à Humanidade, dentro da razão esclarecida, a confiança que nasce do conheci­mento sólido, a fé, que não prescinde do raciocínio, porque a fé viva é útil, fecunda, construtiva, enquanto que a fé inculcada por dogmas (perinde ac cadaver) faz autômatos, destrói a razão, corrompe o raciocínio e alimenta o fanatismo.
 
 Fonte: Reformador – novembro, 1965

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